“Quando saiu a notícia de que tinha uma data para a reabertura, depois de mais de 70 dias, a gente se planejou, convocamos devolta colaboradores que estavam afastados, compramos matéria-prima para voltar a produzir. Agora não sabemos o que fazer”, diz a empresária Larissa Moura, que é confeccionista e lojista na Região da 44 e teve seus planos de volta, mesmo que gradual, frustrados após a prefeitura de Goiânia voltar atrás na decisão de flexibilizar e reabrir gradualmente o comércio na capital.
Larissa conta que muito provavelmente irá dispensar as mais de 30 pessoas que emprega na fábrica de roupas femininas que mantém em Goiânia. “Fizemos aquele acordo para suspensão do contrato por três meses, mas agora irá vencer, e pela lei não podemos mandar essas pessoas embora, pois elas têm direito a no mínimo três meses de estabilidade. Só que sem vender nada não tem como manter os empregos”, lamenta a empresária que defende a reabertura da Região da 44, mesmo que seja de forma gradual para que os lojistas tenham o mínimo de condição de se manter e manter os empregos.
Larrisa lembra ainda que a situação das milhares de micro e pequenas empresas da 44 irão se agravar ainda mais, porque a prorrogação dos impostos solicitada no início da pandemia, também já irá vencer. “Mês que vem já temos impostos, como IPTU, que teremos que começar a pagar. Vamos ter que encontrar algum jeito de negociar”, diz a empresária.
De acordo com o presidente da Associação Empresarial da Região da 44 (AER44), Jairo Gomes, a situação vivida por Larissa é predominante para mais de 90% dos lojistas e confeccionistas que atuam na Região da 44, considerado o segundo maior pólo de confecção e moda. “É lamentável e leviana esta atitude, especialmente da secretária de saúde de Goiânia, Fátima Mrué, que depois do acordo com os setores do comércio para uma retomada gradual, segura, respeitando-se todas as normas de saúde, voltou atrás”, questiona Jairo.
Ele diz que segue buscando uma audiência com o Comitê de Crise de Goiânia, para demonstrar, segundo ele novamente, que a Região tem sim plenas condições de voltar com toda a segurança. O líder empresarial destaca que os empresários da 44 foram os primeiros a apresentarem sugestões de medidas, todas elas preconizadas pelo Ministério da Saúde e a Organização Mundial de Saúde (OMS), e que a Secretaria Municipal de Saúde e o Comitê de Crise sequer avaliaram.
“Buscamos orientação especializada para saber que medidas preventivas deveríamos adotar. Elaboramos um protocolo com 24 medidas concretas e que já estão sendo implantadas pelos shoppings e galerias da região. Apresentamos essas medidas para as Secretarias de saúde do Estado e do Município. E sequer deram o trabalho de avaliar”, exclama Jairo Gomes, que *estima que cerca de 20 mil postos de trabalhos já se perderam após quase três meses de região fechada*.
Ele diz ainda que os empresários da Região da 44, além de terem sido parceiros quando se precisou baixar as portas para conter a pandemia, não estão medindo esforços e investimentos para que a retomada seja de forma segura para todos, clientes e colaboradores. “Mas parece que a senhora secretária avalia que o empresariado da região não merece de volta o mesmo gesto de boa vontade que teve ao fechar suas portas por quase três meses. E que as vidas que estão sendo salvas nesta pandemia, não irão precisar de emprego no futuro. É triste a falta de visão por parte da secretária Fátima Mrué ”, lamenta o líder empresarial.
*Invasão dos camelôs*
A mudança de posicionamento da prefeitura em relação a reabertura da Região da 44, também frustrou os planos da empresária Vanessa Márcia de Assis, que além de lojista é proprietária de uma confecção na cidade Itapuranga, onde emprega cerca de 50 pessoas, trabalhadores estes que ela afirma que terá que dispensar no mês que vem, caso o polo de confecção em Goiânia não volte.
Vanessa afirma que o tem salvado o seu negócio são as vendas feitas via whatsapp e no Instagram, mas segundo ela não passam de 30% do faturamento que teria se sua loja na 44 estivesse funcionando normalmente. “A nossa sorte é que já temos um tempo de mercado e por isso temos um bom número de clientes fixos. Mas mais de 90% dos lojistas da 44 não estão conseguindo vender bem pela internet, a grande maioria não tem essa condição. Então já tem muita gente que já fechou suas portas e não tem condições de voltar mais”, lamenta a empresária que tem que manter sua loja fechada, mas vê todos os dias registros de ambulantes invadindo a região, sem tomar nenhum tipo de cuidado.
“É um absurdo! A loja que tem condições de fazer uma volta segura, pois você tem uma estrutura, tem como usar o álcool gel, limitar o número de clientes, regular o horário de funcionamento, e que é muito mais fácil de se fiscalizar não pode abrir. Mas os camelôs continuam nas ruas da 44, causando aglomeração e atuando sem qualquer cuidado e sem qualquer fiscalização”, questiona a empresária.
*Incoerência*
Para Jairo Gomes, presidente da AER44, a falta de efetividade na fiscalização dos ambulantes demonstra a grande incoerência da prefeitura, que proíbe a volta de quem se compromete a atender todas as regras de sanitárias necessárias, mas deixa livre sem qualquer punição quem não tem compromisso com a saúde de ninguém, nem dele e nem dos clientes. “É uma incoerência enorme, porque a prefeitura mantém fechado os estabelecimentos que têm condições de prestar o atendimento ao cliente de forma segura, adotando todas as medidas obrigatórias e outras mais, mas deixa livre os camelôs que estão na rua causando aglomeração e disseminando o vírus ainda mais”, crítica Jairo.
Ele lembra inclusive, que entre as 24 medidas que a AER44 propôs para a retomada, está a não vinda das caravanas de compras de outros Estados, o que representa uma redução de 70% do fluxo de pessoas na 44. “Os empresários da 44, não só estão investindo em equipamentos e treinamento para que a volta das atividades seja de fato de forma responsável e segura, como estão abrindo mão da maior parte de sua clientela para efetivamente evitar as aglomerações. Mas parece que todo este empenho e comprometimento que nós empreendedores da 44 estamos demonstrando parece não se o bastante. A secretária Fátima Mrué precisa entender que salvar a economia da região é também salvar vidas”, diz Jairo.
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