A presença de traços curvilíneos e formas arredondadas num ambiente, em contraponto às formas retas e quadradas, pode fazer toda a diferença para se ter sensações agradáveis de acolhimento e fluidez. É o que se constata com o estudo do psicólogo e pesquisador da Universidade de Toronto (Canadá), Oshin Vartanian, em parceria com parceria com designers europeus. Ele realizou um estudo a partir da leitura de exames de tomografias feitos em voluntários, enquanto estes observavam cerca de 200 imagens e as classificavam como “feias” ou “bonitas”. Um dos resultados do experimento foi o de que o ser humano, em geral, considera as linhas curvas e arredondadas mais bonitas e agradáveis aos olhos, em comparação às figuras retas e quadradas.

O estudo do pesquisador canadense pode não ser uma resposta definitiva, mas é um bom indicativo sobre o porquê as formas arredondadas e curvas estão mais em voga do que nunca nos projetos de decoração de interiores. Segundo explicam as arquitetas e sócias Andréia Spessatto e Náira Sá, as formas redondas e curvas são uma das principais características do chamado design orgânico, caracterizado pela suavidade de suas formas curvilíneas, arredondadas, fluídas e plásticas. “Formas curvas geram essa sensação de acolhimento e aconchego”, afirma  Andréia Spessatto.

O atributo faz parte da Sala das Lobas, mais recente ambiente projetado pelas duas sócias do escritório Sá | Spessatto Arquitetura para a Mostra Artefacto Goiânia 2024.No lounge de 90 metros quadrados, as duas profissionais trazem cores sóbrias presentes no enorme estofado disposto de forma circular no ambiente, nos pufes e no charmoso tapete circular que cobre praticamente todo o ambiente. Um painel curvo em madeira, com uma lua esculpida em mármore na parte mais reta da parede, dialoga muito bem com o sofá arredondado e outros elementos, como a mesa em formato de elipse e o tapete circular. “Cada elemento foi pensado para transmitir esse sentimento de conforto. Nós gostamos de propor um equilíbrio entre o reto e o curvo em todos os nossos projetos”, diz Andréia Spessatto.

Historicamente, o uso das curvas está presente desde os arcos romanos e as grandes catedrais renascentistas e góticas. Agora, elas estão presentes nas mobílias e nos projetos mais atuais. “A arquitetura orgânica é uma tendência global que chega forte. Por exemplo, a Milan Design Week 2024, maior evento de design e arquitetura do ano, realizado em Milão, na Itália, trouxe as mobílias de design arredondado, fazendo composições únicas nos projetos apresentados”, destaca a arquiteta.

Náira Sá lembra que as curvas são apenas um dos aspectos da arquitetura orgânica. Essa corrente defende que os elementos projetados devem se integrar ao ambiente original e/ou servir às paisagens da qual fazem parte. Para Sá, essa vertente da arquitetura orgânica transcende a mera ornamentação e trás um diferencial para o ambiente, complementando o espaço, valorizando o fluxo e a conectividade para quem visita o espaço.