Duas exposições visuais distintas, que dialogam sobre identidade, história e expressão artística, chegam a Goiânia entre os dias 1 e 10 de abril. Os projetos “Kalungas em Foco”, com obras de Joel Costa, e “Tela à Vista”, com obras de Pádua, aprovados pela Lei Aldir Blanc em parceria com a Prefeitura de Goiânia através da Secretaria Municipal de Cultura, serão exibidos no Sesc Centro, com entrada gratuita, das 8h às 18h. As exposições contarão com acessibilidade, incluindo tradução em Libras e, no caso de “Kalungas em Foco” , também experiência tátil.
“Kalungas em Foco” presta homenagem à história e à resistência da comunidade Kalunga, formada por descendentes de quilombolas que se refugiaram na região da Chapada dos Veadeiros. O projeto, idealizado pelo produtor cultural Marcelo Botelho (in memoriam), propõe um mergulho na cultura desse povo, abordando suas tradições, festas e costumes. A exposição apresenta cinco obras do artista plástico Joel Costa, que utiliza técnicas naturais, como pigmentos à base de plantas, corantes vegetais e terras de diferentes cores para compor suas peças, refletindo o compromisso de Joel com a preservação e valorização das raízes culturais e naturais de Goiás. Cada obra tem dimensões aproximadas 80 cm x 1 metro.
Já “Tela à Vista” explora a capacidade da arte de traduzir sentimentos e ideias projetados pelo artista, materializando formas e expressões através da pintura. A exposição apresenta sete telas, cada uma com dimensões aproximadas de 1,20m x 80 cm e apresenta obras do multifacetado artista plástico, cantor, cartunista e ilustrador Antônio de Pádua da Silva, conhecido artisticamente como Pádua. Ele utiliza técnicas de acrílico sobre tela e papel cartão, oferecendo ao público um convite para desenvolver um olhar crítico e sensível, explorando as múltiplas possibilidades de interpretação da arte.
Como na música, em sua pintura, Pádua não se prende apenas a uma temática, buscando a linguagem simples de sua terra. Em 2015, ele realizou uma exposição de suas obras no Teatro Sesi, acompanhada pelo lançamento de um de seus CDs, Molho Pardo, onde todas as peças foram comercializadas. Desde então, não parou mais, continuando a explorar temas diversos, desenvolvendo a sensibilidade artística e incentivando o público a adotar uma abordagem crítica e aberta à diversidade cultural.
As exposições são um convite para a valorização da cultura e da arte em suas múltiplas formas. Para as produtoras culturais Cinthia Botelho e Cláudia Mendonça, as duas mostras contribuem para a difusão cultural e o fortalecimento da identidade local, por meio da valorização das expressões artísticas que compõem nosso patrimônio. “Kalungas em Foco” nos permite mergulhar na história e nas tradições de um dos mais importantes grupos remanescentes de quilombolas do nosso Estado, resgatando sua trajetória de resistência e preservação cultural até os dias de hoje. Já Tela à Vista nos leva a um universo de referências artísticas, aproximando o público do processo criativo e da interpretação da diversidade cultural”, explica Cinthia.
Os dois projetos foram aprovados pelo PNAB – Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura em parceria com a Prefeitura de Goiânia, através da Secretaria Municipal de Cultura – Edital Fomento Cultural I – Criação, Montagem, Circulação e Transmissão de Produções Artísticas Existentes – Categoria Artes Visuais. O projeto conta com o apoio do Sesc GO, que gentilmente cedeu o espaço da Sala Multiuso 1 para realização da exposição.
Sobre Joel Costa – Formado em Arquitetura e Urbanismo pela PUC-GO, com especialização em Artes Visuais na Escola Basileu França, Joel Costa nasceu no Rio Grande do Norte e se mudou para Goiás aos 3 anos de idade. Cresceu em uma zona rural próxima ao município de Santa Helena, onde desenvolveu um profundo vínculo com a natureza, o que reflete em sua obra atual. O artista utiliza pigmentos naturais, corantes vegetais e terras de diversas cores para pintar animais e outros elementos da fauna local, preservando e valorizando as cores e texturas do cerrado goiano. Sua habilidade artística, que começou na infância, foi estimulada por sua mãe e direcionada inicialmente para a Arquitetura e Urbanismo, área em que também atua paralelamente à arte.
Com uma carreira consolidada, Joel Costa participou de diversas exposições coletivas e individuais, destacando-se, entre elas, na “Exposição Coletiva Santuário da Arte” na Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (2009), na exposição individual “Arte Kalunga” (2022) e na premiação do Festival de Mapeamentos de Goiânia (2023), onde recebeu o Prêmio de Desenho à Mão.
Sobre os Kalungas – A origem da comunidade aconteceu há mais de 200 anos, quando os ancestrais fugiam da escravidão em pleno ciclo do ouro e da garimpagem. Cansados da submissão e dos castigos sofridos na exploração das minas de ouro, os escravos fugiam em busca de liberdade, se escondendo nas matas e em lugares de difícil acesso, e assim acabavam criando quilombos.
Em busca de liberdade, refugiaram-se em regiões isoladas da Chapada dos Veadeiros, formando os quilombos que deram origem às comunidades de Vão do Moleque, Vão de Almas e Vão da Contenda. Atualmente, os Kalungas são reconhecidos como patrimônio histórico e cultural, preservando suas tradições, costumes e modo de vida.
Sobre Antônio de Pádua (Pádua) – Antônio de Pádua da Silva, conhecido artisticamente como Pádua, é cantor, compositor, artista plástico, desenhista e cartunista. Com vasta trajetória na música e nas artes visuais, foi um dos pioneiros em apresentações ao vivo em Goiânia e ganhou reconhecimento nacional. O artista tomou gosto pela pintura, quando trabalhou em jornais da capital como cartunista e ilustrador. Sua carreira inclui ainda participação em festivais importantes e convites para eventos internacionais, como o Wien Jazz Fest, na Áustria.
Leave A Comment