A Equatorial Energia fechou durante a madrugada a compra da CELG-D, a distribuidora de energia de Goiás avaliada em cerca de R$ 10 bilhões. A negociação deve se concretizar em dois meses segundo fontes.  A Equatorial está pagando R$ 1,6 bilhão pela CELG-D e assumindo a dívida líquida de R$ 5,9 bi reportada em 31 de março, o último balanço publicado. Em 2018, um ano depois de comprar a CELG-D por R$ 2,2 bi, a Enel reconheceu uma base de ativos regulatória (RAB) de R$ 3 bi.  De lá para cá, os italianos investiram R$ 5 bilhões na empresa, o que sugere que a RAB atual seja de pelo menos R$ 8 bi.

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, informou a venda em suas redes sociais alegando que a venda está ligada ao fato da Enel não prestar um serviço de qualidade. “Exigimos que [a Enel] cumprisse tudo aquilo que havia assinado no contrato no momento da compra da Celg. E, mesmo assim, eles não cumpriram. Mas, como eles tinham um contrato por cinco anos, nós vimos que eles foram prorrogando dia a dia. Mas estávamos ali insistindo, cobrando mais. Quando eles viram que ia para a caducidade, ou seja, o cancelamento do contrato, eles rapidamente venderam para a Equatorial”, afirmou Caiado.

Olhando apenas os números e desconsiderando eventuais contingências que podem encarecer a aquisição, a Equatorial está pagando um enterprise value ligeiramente abaixo de RAB, enquanto as distribuidoras negociam na Bolsa a um múltiplo médio de 1,7-1,8x EV/RAB. Já a Equatorial negocia com um prêmio de cerca de 10%, em torno de 2x. A Equatorial – que levantou R$ 2,8 bilhões em fevereiro a R$ 23,50/ação – vai pagar a compra usando parte de seus mais de R$ 10 bilhões em caixa.

Com a aquisição, a Equatorial finca sua bandeira em um estado que ostenta muita demanda reprimida por energia depois de anos de subinvestimento. Entre 2010 a 2020, Goiás cresceu substancialmente acima do Brasil em boa parte graças à força do agronegócio. Apesar de ter acelerado investimentos para fazer um catch-up, a Enel se viu numa situação política delicada quando começou a faltar energia em Goiânia diversas vezes por dia.

“A Enel caminha para descumprir pelo segundo ano consecutivo as metas de melhoria dos serviços da Aneel, e isto pode lhe custar a perda da concessão,” o Governador Ronaldo Caiado disse numa entrevista recente. “O melhor caminho é que ela desista de tentar lucrar com a operação de venda e transfira o controle. Queremos a Enel fora de Goiás.”

Esta é a sétima aquisição de uma distribuidora pela Equatorial, uma empresa que fez sua reputação em cima de turnarounds complexos no Brasil profundo. O modelo de gestão da Equatorial já foi aplicado no Maranhão (2004), Pará (2012), Piauí (2018), Alagoas (2019), Rio Grande do Sul e Amapá (2021). Mas a aquisição da CELG-D é a maior já feita pelo grupo em distribuição de energia – e tem um dos maiores retornos projetados da história da Equatorial, disseram as fontes, sem fornecer números. Um analista disse que esta pode ser a terceira aquisição mais atraente na história da companhia, depois do Maranhão e Pará, nas quais a Equatorial pagou múltiplos de 0,6x e 0,8x EV/RAB, respectivamente. A transação é uma derrota para a Energisa, que tem diversas concessões ao redor de Goiás e também disputava o ativo.

Com dados do Brazil Journal. .