O grupo de pesquisa Crítica e Experiência Estética, vinculado ao Centro de Artes (CAR) da Ufes, promove na segunda-feira, 1º de abril, o livro 60 anos do golpe: gerações em luta. O evento acontecerá às 10 horas, na sede da Associação dos Docentes da Ufes (Adufes), e haverá debate com a participação de autores capixabas e mediação dos integrantes do grupo de pesquisa.

A publicação faz uma análise do período da ditadura com base em memórias pessoais e históricas, e também lança questionamentos aos dias atuais. São artigos de mais de 60 autores, entre juristas, professores universitários, cientistas sociais, jornalistas, artistas, economistas e lideranças políticas, sindicais e de movimentos sociais de diferentes gerações impactadas por esses acontecimentos, incluindo militantes históricos que participaram da resistência ao golpe de 1º de abril de 1964.

Em Goiás, o livro traz textos da jornalista Laurenice Noleto Alves – a Nonô Noleto –  e do jornalista Pinheiro Salles. Com 334 páginas, a obra apresenta uma variedade de artigos escritos por ex-combatentes do golpe e da ditadura, ex-coordenadores da Comissão Nacional da Verdade, membros do MG68, intelectuais, acadêmicos e representantes de diversas camadas sociais.
Em sua participação no livro, Nonô explica que sofreu demais no período da ditadura, juntamente com outras mulheres goianas.
“No período das trevas, que foi a ditadura, perdemos parte das nossas vidas nas portas das prisões onde estavam nossos filhos, maridos, companheiros. E por isso mesmo, nunca parei de lutar pela preservação e aprofundamento da democracia; e pelo empoderamento e conscientização política das mulheres. Lembrar do passado e deixar visíveis as semelhanças com o presente é uma forma de dizer não ainda hoje, às tentativas de novos golpes contra a nossa Democracia”, afirma.
O jornalista Pinheiro Salles reforça relata no livro como os defensores da democracia e do socialismo eram arrastados para os porões. E reforça que tudo o que se disser ainda será insuficiente.
“Com sequelas irreversíveis e as debilidades causadas pelos nove anos de cárcere, além da idade avançada, reconheço que já está curto o meu tempo de vida. Tenho muito mais passado que futuro. Então, não vou desperdiçar o que resta da minha existência. E não deixarei de contribuir para a tão necessária transformação política, econômica e social do mundo em que vivemos. Tenho a sólida convicção de que esse mundo é possível. Confio na classe trabalhadora. Eu acredito na humanidade”, afirma.
Francisco Celso Calmon, advogado, ativista e ex-preso político, é a mente por trás desta iniciativa. Ele propõe uma reflexão sobre o passado e o presente do Brasil com a pergunta: “Onde estávamos em 1964 e onde estamos em 2024?”. Esta questão norteia o conteúdo do livro, que conta com contribuições de brasileiros que vivenciaram essa época sombria.

“É fundamental que se discuta nas universidades esse contexto e suas consequências históricas: analisar o passado para compreender o presente e projetar um futuro onde não haja espaço para o recrudescimento de tamanha violência e autoritarismo”, destaca o professor do Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL) e coautor do livro Gaspar Paz.

O lançamento será nacional e ocorrerá simultaneamente no Rio de Janeiro (RJ), em São Paulo (SP), em Brasília (DF), em Passo Fundo (RS), em Curitiba (PA), em Goiânia (GO) e em Belo Horizonte (BH). Em Vitória, além do evento na Ufes, o livro será lançado no mesmo dia na Biblioteca Estadual do Espírito Santo, às 19 horas.

A obra poderá ser adquirida nos locais do evento por R$ 84. Após o lançamento, a publicação será disponibilizada gratuitamente em versão digital em sites e repositórios de várias instituições no país, que serão divulgados posteriormente.